sábado, agosto 28, 2010

Quando caem as máscaras

Muitos disfarces. Sem se reconhecer no espelho, a gente vai colocando mais maquiagem pra disfarçar o que foi borrado pelas lágrimas. Sem perceber, fica com o rosto de outra pessoa, assume outra persona, veste o cinismo alheio pra se proteger sabe lá de que. Não dói cair na real. Quer dizer, dói, mas a dor é suportável, ou não estaríamos todos por aqui. Dói, mas não mata, acho que é isso... Só não entendo o motivo de se ter tanto medo da dor a ponto de assumir outra vida para não encarar os percalços da sua. Mesmo que eu faça isso, sistematicamente, continuo sem entender.

A última foi boa: ele, resumindo bem a ópera, lança desconfianças sobre o meu caráter por eu ter agido exatamente como agiria!

Você não processa bem quando e por que essas coisas acontecem. Minha primeira reação é fazer a digna: engolir em seco, fingir que "Hey, você é um escroto, mas eu convivo bem com a sua cretinice!" e ir pra casa em cima do maldito salto. Aceitar a companhia dele até o carro e, depois que ele ficar na calçada com aquela cara imbecil de "o que foi que eu fiz de errado", dirigir como se não houvesse amanhã, aumentando o volume do som, de janelas fechadas, gritando comigo mesma e vertendo todas as lágrimas que a hidratação do meu corpo, nesses dias de umidade baixa, permite. E torcendo pra não morrer de ódio, já que tem momentos em que a dor no peito pelo seu execesso de auto comiseração alcança níveis de um ataque cardíaco!


A segunda reação é contar pras amigas, caprichando nos detalhes sórdidos, pra que elas o odeiem tanto quanto eu o odeio nos últimos 50 muinutos. Desabafar para que o veneno saia e possa voltar a amá-lo em alguns dias, mesmo sabendo que o merecimento do desgraçado é inversamente proporcional à minha propensão em perdoar faltas graves. Em 2 ou 3 dias já estou convencida de que sou apaixonada pelo pacote todo e que, fosse menos babaca, talvez eu não o amasse tanto. Não dou o braço a torcer. Não ligo e não atendo o telefone, mas já estou muito mais aberta a admirar aquele sorriso cafajeste como se fosse uma expressão angelical, outra vez.


A gente usa todo tipo de artifício para fingir que o último furacão não passou de uma pequena ventania, que exagerou, que devia ter contemporizado. Passa a se culpar pela falta de tato e pela hipocrisia do outro. Depois de ter se exposto, de ter doado, de ter tentado andar na linha, fazer as vontades alheias, agradar ao outro sem levar em conta nossas vontades, a gente se culpa pela falta do outro!

A gente vê, claramente, quem a pessoa é, por alguns minutos e depois parte para buscar as desculpas mais estapafúrdias para um comportamento que não demonstra qualquer coisa que não indiferença, e em alguns casos, desrespeito. Depois de tudo a gente fica como estou, agora, perdendo tempo tentando entender o motivo das máscaras. Das dele, e das minhas.


"We never talked about it
but I hear the blame was mine
I would call you up to say I'm sorry
but I wouldn't wanna waste your time..."
Phil Collins - Do You Remember

Um comentário:

  1. 'A gente usa todo tipo de artifício para fingir que o último furacão não passou de uma pequena ventania, que exagerou, que devia ter contemporizado.'

    Preciso dizer alguma coisa?
    É isso mesmo.

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