quinta-feira, novembro 04, 2010

POLAROIDS

GATA E RATO



exercita a paciência
guarda os pulsos pro final
saída de emergência
pitty, pulsos





A situação é típica, e trágica: ela é linda, inteligente e acidinha, ele é confuso, gente boa e completamente míope - meio retardado, talvez. Ele não sabe direito quem é, ela está determinada a descobrir. Ela vai se apaixonando, quase sem querer, ele vai dando corda, pra no fim se enforcar. Ela sabe o que quer, mas é mulher: tenta não ter toda iniciativa, tenta não se expôr demais, e não consegue nada disso. Ele sabe o que não quer, mas rato é rato: covarde, dá voltas, se esconde. Ela desencanta, antes da derradeira covardia. Ele se distrai com qualquer porcaria. Ela o odeia, por quase um segundo, depois deixa pra trás: virou história, virou memória, pra um dia e não mais.





SOBRE NÓS DOIS, SEM O RESTO DO MUNDO



eu que sei tão pouco de você
e você que teima em me querer
ana carolina, entreolhares




Ela o ama, mas ele dorme em outra cama. Milhares de dias se passaram entre juras de amor eterno e certezas inabaláveis, entre esperanças e sobressaltos, entre ânsias e anseios. A Terra vira de cabeça pra baixo, mas eles estão lá, firmes, pois seu planeta é outro, uma realidade paralela, um mundo bizarro. Um apartamento cheio de lembranças, e não se dão conta das infiltrações no teto, dos cupins nos móveis, do mofo nas paredes, da poeira se acumulando nas memórias. Não percebem que as fotos estão perdendo a cor, como os momentos que passam a olhar um nos olhos do outro sem enxergar mais ninguém. Ele tem nome, sobrenome, uma rotina pesada e tudo aquilo que se pode chamar de vida, ela resolveu que melhor seria vivê-lo e não sabe mais quem é a pessoa do outro lado do espelho. O mundo está em guerra e ela ainda está buscando o pote de ouro que fica no final do arco-íris.











(DES)ENCANTADO


nada, nada vai resolver
porque tudo, tudo me traz você
e eu já não tenho pra onde correr
leoni, 50 receitas



O que a fascinava era a possibilidade daquilo se perder, escorrer pelos dedos. Era o tanto de perfeição que nunca pensara em ter, mas volátil, pronto pra explodir e transformar sua grande satisfação em pedacinhos cortantes de mágoa. Arrebatador, mas de mão única. Era uma dedicação conjunta, por motivos individuais. Faziam dar certo, sempre deu certo. O que a fascinava, de verdade, nem era o risco de tudo acabar, embora ela prefira que pensemos assim, o que a encantava era aquele cinismo charmoso, aquela ironia toda, o jeito de dizer as piores coisas como se fossem corriqueiras, de transformar o que era chocante em usual. O que a prendia era o melhor sexo que já havia obtido, a sintonia de corpos que se satisfaziam simultaneamente, junto com a conversa mais gostosa e a permissividade com que tratavam sua vida em comum. Tinham o mesmo raciocínio rápido, a mesma habilidade com as palavras, um carinho imenso pelo outro e, no entanto, o que separava o bem querer dele e o dela era a linha tênue que separa o cuidado do amigo da paixão do amante. Eles eram pra sempre, cada um do seu jeito. E foram.


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